Fibra óptica ainda tem espaço para crescer no Brasil?
Mesmo com a consolidação do mercado de provedores, especialistas apontam pontos em que o setor ainda pode crescer junto com a infraestrutura
Dados da PNAD Contínua de 2021, apontam que 83,5% dos domicílios brasileiros tinham conexão de Internet fixa, o que diminui o número de potenciais clientes, mas especialistas do setor de telecom dizem que ainda há espaço e demanda para o crescimento de infraestrutura de fibra óptica no Brasil. O desafio está em como fazer isso de forma rentável.
O principal “vilão” é a comoditização dos megabits, que fizeram o preço cair de R$ 40 para R$ 2 em cerca de dez anos, segundo o ponto de vista de Rui Gomes, CEO da Um Telecom, operadora de atacado referência no Nordeste. Isso tem feito o investimento em fibra óptica perder atratividade, pois a competição por preços acaba sendo agressiva.
Apesar de tudo, isso não tem feito o mercado de provedores de Internet (ISPs) perder o fôlego. A Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp) diz que o setor continua crescendo devido à demanda por conectividade, mesmo que a taxas menores do que no passado.
“Há uma briga pelo bolo, mas ainda tem a cobertura”, diz Luiz Henrique Barbosa, presidente executivo da TelComp, se referindo às pessoas que ainda não tem Internet fixa de qualidade em casa.
O que puxa o crescimento de infraestrutura
De acordo com ele, a infraestrutura ótica ainda precisa aumentar, porque falta redundância às redes de backbone. Com a economia cada vez mais digitalizada, acaba sendo crucial que a rede tenha disponibilidade garantida, o que puxa uma demanda de conectividade. “A redundância da rede nem sempre se paga, mas a demanda impulsiona o investimento”, garante.
Junta-se a isso uma necessidade cada vez maior por velocidade. Gomes, da Um Telecom, estipula que, em três anos, será necessário que as casas tenham 1 Gbps de conexão para poder utilizar tecnologias como realidade virtual (VR) e aumentada (AR), telemedicina, vídeo 8K e aproveitar os benefícios de uma casa automatizada.
O desafio, neste caso, estará nas redes de acesso e backbone. Neste último, Gomes diz que é questão de iluminar mais faixas de fibra óptica ao invés de implementar mais cabos, mas as redes de acesso precisarão ser atualizadas. Além de atualizar o GPON para o XGS-PON, será preciso aumentar a tecnologia na rede. “’A evolução tecnológica obriga uma atualização recorrente”, defende o presidente da Telcomp.
O compartilhamento de rede também será uma saída para os provedores, mas isso só mostra que o mercado vem se consolidando. O CEO da Um Telecom diz que grandes players têm se formado em regiões disputadas apenas por provedores e os ISPs menores sentem que perdem mercado.
Barbosa, da Telcomp, lembra que a consolidação de mercado diminuiu devido ao aumento dos juros e às eleições em 2022, o que derruba o apetite de investidores ao risco, mas já vem retomando, algo visto com a fusão entre Americanet e Vero. A consolidação também tem que ser vista como algo positivo para o setor, já que traz mais eficiência para os negócios, conforme alega o especialista.
Oportunidades de crescimento estão nos SVA
Para fugir da briga por preços, os ISPs já entenderam que precisam trazer mais serviços de valor agregado (SVA) para seu portfólio. Barbosa explica que os provedores precisam buscar o que teme mais a ver com seu negócio na hora de trazer um novo serviço. Também é fundamental que ele possa ser escalável.
Automação residencial, com soluções de videovigilância e gestão de Internet das Coisas (IoT), além de opções de streaming, são ofertas que ele já tem visto entre as associadas. A própria Um Telecom tem uma solução de videomonitoramento inteligente que é oferecido por ISPs a comerciantes.
Ainda segundo o presidente da Telcomp, os provedores começam a olhar para o Wi-Fi 6E como uma forma de competir com o 5G residencial, oferecido a partir da tecnologia FWA e que começou a ser implementada no Brasil recentemente com a Claro.
Autor: Ipnews